Uma paixão chamada Thunder

by | dez 6, 2020

Paulo Américo de Paula Ribeiro, um advogado de 46 anos, casado e pai de três filhos,tem uma paixão que o acompanha desde a infância. É uma dessas paixões loucas, desenfreadas, que fazem até o mais comum dos mortais escrever um poema. Um poema de amor para – acreditem – um carro. Pois de o objeto da paixão de Paulo Américo é nada menos que um Ford Thunderbird, ano 1957, original. E o poema conta a história desse amor.

É ele quem conta:

– Desde menino, eu tenho paixão por carros. Acho mesmo que a maior invenção do homem neste século foi o automóvel. Ele dá uma sensação de liberdade, de poder. O carro completa a família. Foi em 1957, quando cheguei à capital, vindo de São Simão, que conheci pessoalmente , aos 18 anos, o Ford Thunderbird. Antes disso, só em revistas. O amor aumentou e a partir desse momento acalentei o sonho de possuir aquele automóvel. Mas na época era muito caro e eu estava começando a fazer a vida.

”Na primeira vez que te vi

Cobiça, mil desejos senti.

Entre luzes brilhava

E eu, de longe, te fitava.

A separar-nos, grave barreira:

Eu, jovem , em início de carreira

E tu, requintada, predestinada

À classe privilegiada”

– Em 1958, comprei um Studbacker 51, motor V-8, importado. Naquela época era fácil comprar e manter um carro importado. A gasolina custava três vezes menos que uma água mineral e ninguém levava o carro no mecânico para resolver problemas de consumo.

Assim o tempo passou, Paulo Américo formou-se, fez a vida, casou-se, mas o velho sonho não morreu.  

”Tantas, tantas vezes te vi,

A rodar, orgulhosa, por aí,

Sendo usada, castigada,

Maltratada, na rua, na estrada

E isto, quanto mais acontecia,

Tanto e muito mais te queria!”.

Ele continuou amando os automóveis, e muitos passaram por suas mãos, até que finalmente, em 1970, ele conseguiu realizar aquele sonho antigo: encontrou o velho Ford Thunderbird 1957 e o amor ressurgiu.

Comprou-o por 15 mil cruzeiros, um preço alto, pois, segundo ele, naquela época com esse dinheiro se podia comprar um carro bem mais novo. Mas ele o compraria por qualquer preço. Hoje o carro faz parte da família, tanto que a sala de jantar de sua casa foi demolida para dar lugar a uma garagem para o velho Thunderbird.

”Um dia te encontrei largada,

Sem saias, abandonada,

Em um lugar índigo daquele dia

Em que entre luzes reluzias.

Do novo contacto,

Ressurgiu o amor-impacto:

Apanhei-te para morar comigo

E curtir o amor antigo”.

– É um modelo, 1957, com dois lugares, motor V-8 292, que equivale aos antigos Galaxie, 200HP, câmbio com três marchas, direção hidráulica, banco inteiriço com três movimentos, carburador quádruplo, rádio original com sintonia automática, três capotas. Um, rígida, de fibra de vidro removível; outra lona conversível, que fica guardada atrás do banco; e a terceira, chamada marítima, para a cobertura e proteção dos passageiros.

Ele usou esse carro regularmente por quatro anos. Era o segundo carro da família. Viajou para o Rio de Janeiro, Curitiba e Ribeirão Preto.

É um caro de máquina muito eficiente, com consumo idêntico ao do Galaxie,mas com desempenho de carro esportivo. Tem muita aceleração e muito torque, explicou ele.

A partir de 1974, o carro deixou de ser usado e ficou à espera de uma restauração, que veio em 1977:

”Com trato, restaurei tuas formas,

Com trato, recuperei, tuas forças.

Olvidei o passado inconseqüente

E dei-te sais novamente”!

E essa restauração tem uma história que merece ser contada:

-Quem restaurou o carro foi o Batista, hoje proprietário da Agromotor, um engenheiro que trocou essa profissão pela de mecânico de automóveis. Ele foi muito cuidadoso e o carro ficou perfeito, nada deixando a desejar a um modelo zero quilômetro.

Mas para chegar a essa perfeição, foi preciso muita paciência, muito tempo e … muito dinheiro. Paulo Américo comprou, para essa reforma, mais dois Ford Thundrbird, um 5 e outro 57, para usar apenas peças verdadeiramente originais. O rádio, por exemplo, foi retirado do modelo 55. Tudo foi feito com o maior capricho. Até a cor, que na época da compra era verde, voltou para a original, branca. Os pneus, raríssimos, foram comprados na Zacharias, que dispunha das últimas cinco unidades.

É por isso que Paulo Américo conta com orgulho que seu carro ganhou em 1977, na exposição do Veteram Car Club, no debut, o primeiro lugar na categoria. Em 1979, quando a Ford, comemorando 50 anos de Brasil, organizou uma festa para carros antigos, o seu carro também ficou em primeiro lugar como exemplar representativo da década de 50. Em 1983, a Ford levou seu Thunderbird para a festa de lançamento do Escort no Rio de janeiro.

Em 1979, Paulo Américo participou de uma competição oficial, promovida pelo clube do Jaguar. Foi o Quilômetro Aceleração de Interlagos. Em sua bateria estavam um Jaguar XK 150 e duas Corvette. Adivinhem! O seu Thundrbird chegou em primeiro lugar.

É por tudo isso que hoje em dia o carro é o xodó da família.

”Para ti, trovas são provas

De amor,

Minha Thunder“57!”.

-Desde que foi restaurada, somente um dia ela tomou chuva. Nós tomamos o maior cuidado para sua conservação. Todo sábado, sem exceção, ela é encerada. E a família toda ajuda.

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