Este carro é antigo: é um Maverick de quatro portas, adaptado para correr na Fórmula 5.000, a mais veloz do automobilismo brasileiro. Mas é um carro muito especial – foi campeão da categoria em 84. Agora, entre nele conosco para sentir por que ele é um vencedor.
Para um carro convencional, a curva que está ali adiante é tão aberta que não exige grandes cuidados, mas para min ela parece fechadíssima: estou esticando a terceira marcha na subida dos boxes, em Interlagos. O carro faz a curva, passa pela reta dos boxes, e logo estou chegando à curva um, a 228 Km/h. Este carro anda depressa demais.
Este carro é um turismo 5.000, um Maverick de quatro portas adaptado para correr na Fórmula 5.000, a mais veloz de todo o calendário nacional. Tão veloz que suas provas são disputadas apenas pelo anel externo do autódromo de Interlagos: as médias superam os 200 km/h.
Conseguimos para este teste o Maverick campeão de 84 da Fórmula 5.000, preparado pela oficina Agromotor, cujo dono, desde 1981, queria competir com um carro diferente. Tentou, primeiro, um Galaxie, mas o peso eliminou qualquer possibilidade de vitória; sua escolha seguinte foi o Maverick de quatro portas porque, embora mais pesado que o de duas, tem distância entre eixos maior, o que lhe assegura melhor estabilidade em curvas muito velozes.
Do Maverick original, porém, resta hoje muito pouco: a carroceria foi aliviada em todos os pontos onde isso era possível sem provocar enfraquecimento da estrutura; a suspensão foi modificada e reforçada, tendo recebido, inclusive, valores de cáster, cambagem, convergência e inclinação do pino mestre estranhos – como a pista tem curvas sempre para o mesmo lado (esquerdo), a cambagem da roda dianteira direita é diferente da dianteira esquerda.
A parte aerodinâmica mereceu tratamento especial: nas velocidades elevadas em que este tipo de carro se mantém a maior parte do tempo, as forças de arrasto e sustentação adquirem grande importância. Por isso, até mesmo as rodas traseiras são parcialmente cobertas, com os pára-lamas formando uma espécie de minisaia.
O motor é o original do Maverick V8 de 302 polegadas cúbicas (4.950 cc) e tem como limitação o carburador bijet original (duplo).
O regulamento da categoria não autoriza a montagem do carburador quadrijet (quádruplo). Mas esta é a única limitação: no mais, tudo pode ser alterado: taxa de compressão, cabeçotes, coletores de admissão e escape, pistões, válvulas, distribuidor, escapamento, comando de válvulas, tudo. Assim, a potência fica próxima dos 280 cavalos.
A transmissão alterada (terceira marcha mais longa) e os pneus slick (Pirelli P-7) completam as características do carro, que usa freios a disco nas 4 rodas.
Muita gente me pergunta porque os Maverick, pelo menos até agora, têm sido imbatíveis na Turismo 5000, uma vez que, tanto os Dodge como os Galaxie, possuem motores igualmente possantes. De fato, o motor atual do Galaxie é o 302 polegadas cúbicas, usado pelo Maverick, que tem 4.950 cm3 de deslocamento. Enquanto que o motor do Dodge é ainda maior, com 5.212 cm3 de deslocamento!
Suas potências originais são equivalentes as dos Maverick (no caso do Dodge Charger RT a potência é ainda maior com 215 HP, contra 197 HP do Maverick). Por que , então, a vantagem?
A resposta é fácil: enquanto o Maverick pesa cerca de 1.300 quilos, o Dodge pesa mais de 1.400 e o Galaxie mais de 1.700; e isso faz uma enorme diferença, pois cada cavalo de Maverick puxa menos quilos do que os seus concorrentes dos Dodge e Galaxie…
Assim, o handicap é sempre favorável ao Maverick. Está havendo, até, uma certa tendência para que, tão logo o número de concorrentes o permita, se efetuem duas classificações em separado, em cada prova: uma para os Maverick e outra para os Dodge e Galaxie.
Nem todos, porém, pensam da mesma maneira: o chefe da equipe Agromotor, o Batista, acha que ainda conseguirá fazer o seu Galaxie competir de igual para igual com os Maverick. E tem argumentos bastante convincentes como, por exemplo, o fato de que a estabilidade do Galaxie deverá ser melhor, quando convenientemente acertada. Aliás, o “Calígula”, seu piloto, já está conseguindo fazer as curvas Um e Dois de pé em baixo. Depois, Batista acha que o maior espaço para o motor no Galaxie, pois não tem a suspensão dianteira do tipo Mc Pherson, que ocupa grande parte do espaço, permite a utilização de um coletor de escapamento mais perfeito e sofisticado, de tal forma que a potência do mesmo motor poderá ser melhor aproveitada no Galaxie do que no Maverick.
Quanto aos Dodge, além do problema do peso, há ainda a dificuldade da suspensão traseira, que utiliza eixo rígido, pesadão. Isto provoca uma relação peso suspenso/peso não suspenso pouco favorável e o “Dojão” tem mais dificuldades para fazer as curvas.