DO GALAXIE AO LANDAU.

por | jan 26, 2021

No melhor estilo dos carros americanos, os Ford Galaxie e suas versões foram os mais inovadores e luxuosos automóveis já fabricados no Brasil Por Luiz Francisco Baptista da Automotor e Jane Lopes da revista Oficina Mecânica.

Os carros da linha Ford Galaxie, incluindo LTD e Landau, foram os maiores, mais luxuosos e, conseqüentemente, os mais caros automóveis fabricados no Brasil.

Feitos na concepção  clássica dos carrões americanos ( chassi de longarinas, carroceria três volumes, quatro portas, motor V-8 dianteiro e tração traseira, muito espaço e alto desempenho), marcou época no Brasil e durante os 16 anos que esteve em produção, não teve concorrentes ( os Dodge ficaram numa faixa mais esportiva e menos luxuosa).

Mas veio a crise do petróleo e levou com ela nossos V-8. Porém, até hoje a Ford do Brasil recebe pedidos e reclamações… muita gente ainda quer os V8!
Em 1967, o homem começa a dar seus passos definitivos na conquista da lua, a crise da gasolina ainda não passava de especulação e o luxo estava na moda. Era o momento ideal dos brasileiros terem um carro realmente de luxo. Assim surgiu o Galaxie. Precursor em quase tudo que surgiu de mais moderno em termos de mecânica, tecnologia, conforto, enfim, o que que foi lançado nele, é sucesso até hoje.

Lançado como primeiro carro verdadeiramente de luxo do Brasil, o Galaxie, desde seu nome, já sugeria alguma identificação espacial. E a idéia ia longe, chegando até mesmo no nome das cores: bege-terra, vermelho-marte, cinza-cósmico, preto-sideral, azul-infinito, verde-noturno, branco-glacial, azul-ágea… Equipado com o motor 272”, 4.460cc V-8 e potência de 170 CV a 4.400 rpm, chegava ao Brasil  o primeiro carro que unia potência, conforto e classe, a mais luxo.

BEM SUCEDIDO

Não deixando nada a desejar para os importados de luxo da época, o Galaxie era resultado de um projeto vultoso da Ford norte-americana sob comando de Lee Lacocca que, para lançar o modelo nos Estados Unidos, em 1965 investiu US$ 250 milhões. Como comparativo, p projeto do Mustang, da mesma época, consumiu investimentos da ordem de US$ 40 milhões.

Levando-se em consideração o público a quem se destinava, o Galaxie nas suas cinco versões brasileiras ( Galaxie, LTD, Standadrd, 500 e Landau), vendeu 87.647 unidades em 16 anos de vida. E o que mais impressionava na carreira desse carro, era sua constante atualização. Apesar de ter praticamente nascido e saído de fabricação com a mesma linha (foram poucas as modificações estéticas), o Galaxie manteve-se sempre um carro atual.

Apenas um ano após seu lançamento,  o Galaxie já ganhava inovações. Em 1968 ele recebeu painel estofado, tapetes do porta-malas em buchê retrovisor externo ( naquela época esse acessório ainda não era obrigatório) e atingia em setembro de 1968 o índice de 13.700 carros produzidos.

Mas foi em 1969 que o Galaxie, com público fiel e bem definido, recebeu sua primeira ”grande” alteração: as grades e frisos foram reestilizados, e novas cores surgiram, porém agora com nomes mais ”terráqueos”: cerceta-metálico, bege-metálico-monza, verde-metálico-caribe, prata-metálico, amarelo, vermelho-meteoro e azul-metálico-nutico.

A maior novidade, no entanto, no entanto, foi o lançamento da versão LTD, um modelo mais luxuoso que o 500. Surgiram nessa época a transmissão automática (opcional, o motor 292 (também opcional) de 4.800cc com 20CV de potência a mais (188 CV) espelho para maquilagem no quebra sol direito, nova articulação da alavanca de câmbio, freios dianteiros com tambores mais largos e regulagem mais automática, novo silenciador, frisos e calotas. Também surgiram como inovações a abertura do capô com acionamento no painel, o lampejador para faróis e teto de vinil. A antena, que antes vinha instalada à direita, mudou para a esquerda  e passou a ser totalmente embutida.

Em 1970 houve nova oferta de cores, alteração de frisos e, em contrapartida ao LTD que completava seu primeiro ano de existência surgiu o Galaxie Standard: sem relógio, com direção mecânica, sem desembaçador e frisos, com estofamento de plástico e calotas pequenas. Já em 1971, os modelos existentes tiveram as lanternas traseiras reestilizadas, o estofamento de couro (opcional) e chega o top da linha, o Landau, com vidro traseiro pequeno e enfeites tipo ”compasso” nas ”colunas” C.

Em 1972, as novidades foram poucas, mas importantes: o freio a disco e servo-freio na parte mecânica e, aumentando ainda mais o conforto, ar quente e opcional. Mas se o Glaxie era o que todos esperavam de um carro de luxo, termina a curta trajetória do modelo Standard em 1973. Neste ano, para os demais (Galaxie,LTD e Landau) novos desenhos na traseira (pára-lamas), lanternas e tampa da mala dianteira também são modificadas, a grade, lanterna e pára-choques são novos, assim como as opções de cores. Depois, por mais dois anos, poucas modificações. Em 1974, apenas novas cores, e em 75 muda o aro de buzina ( passa a ser preto-fosco) e é colocado pisca-alerta.

GRANDES MUDANÇAS

Foi no ano de 1976 que ocorreram as maiores modificações desde o seu lançamento: a começar pelo novo motor 302 V-8 importado de 4.949cc, com 197 CV de potência e 7,6;1 de taxa de compressão. São oferecidos três modelos: Landau, LTD e Galaxie 50, todos com suspensão recalibrada. O Landau a versão mais luxuosa, é oferecido exclusivamente na cor prata-continental. Todos os modelos vêm com novidades: grades, capô, lanternas dianteiras e traseiras, disposição dos faróis e tecidos de estofamento. Na parte mecânica, a novidade foi a colocação do cilindro duplo do freio. E no final de 76, foram equipados com pneus radiais, rodas de seis polegadas e diferencial com relação mais longa, de 3,07;1, no automático.

Quando o Galaxie comemorava 10 anos produção no Brasil, 60mil carros já haviam sido fabricados. Nesse mesmo ano, 1977, houveram algumas modificações na mecânica, como  motor com cabeçote redesenhado, 7,8;1 de taxa de compressão, velas com rosca de 14mm, coletor de admissão redesenhado, rercalibragem do distribuidor e novos pistões que traduzidos, significaram 198 Cv a 4.400 rpm.

O Galaxie conseguiu ser, além de um carro tradicional, também um modelo moderno. Acompanhado as tendências da moda, a linha 1978 surgia com estofamento em nylon cinza aveludado, e a cor do Landau passou para o cinza-grafite. Também foi modernizado o volante, que ficou com quatro raios. Na parte mecânica, o motor ganhou hélice de aço (passo variável), mais silenciosa.

SINAL DOS TEMPOS

Apesar de todo o apelo futurista da época do seu lançamento, a crise do petróleo era uma realidade. E o Brasil aparecia como uma grande solução: o álcool como combustível alternativo. E em 25 de junho de 1979 foi entregue o primeiro Landau a álcool ao então presidente João Figueiredo. Mas, não foi só álcool que surgiu como novidade naquele ano. Foi aumentado o tanque de combustível (passou para 107 litros de capacidade), ignição eletrônica, hélice hidrodinâmica, carburador de venturi variável, com filtro de ar de alumínio, além do ar condicionado embutido no painel e cintos de segurança retráteis. Este foi o ano do último modelo 500, restando para o mercado apenas as versões LTD e Landau. 

Com a crise do petróleo no início dos anos 80 estava chegando ao fim a história dos mais luxuosos de todos os carros brasileiros. Ele só teria mais três anos de vida. Mas, mesmo assim a Ford mantinha o padrão de qualidade e trazia novidades para o LTD e Landau. Em 1980 o modelo recebeu o escapamento duplo e a cor predominante dos Landau passou a ser o azul clássico. Voltam o carburador antigo e o filtro de ar metálico. O cinto de segurança deixou de ser abdominal e passou a ser retrátil transversal, embutido nas colunas das portas. O porta-malas passou a ter duas abertura acionada do interior do veículo, a antena era automática e o carro passou a ter barra estabilizadora traseira.

Uma nova barra estabilizadora e molas recalibradas apareceram na linha 81, que também recebeu novas pinças de freio – maiores – e cintos retráteis de rês pontos fixados nas colunas. Em 1982, houve modificação nas chaves de portas e contato e foi instalada uma grade no vão do pára-choque dianteiro.

Finalmente chegou em 1983, e com ele o fim da produção da linha Galaxie/Landau. Mesmo sendo seu último ano, o carro recebeu a primeira calota presa com parafusos(rosqueadas), mas as inovações pararam por ai. Com o fim do Ford Galaxie e toda sua linha, chegava ao fim também era de luxo, conforto e classe. O Brasil estava acordando para uma triste realidade. Os possantes V-8 iriam deixar saudade. Mas, seu público, mesmo com poucas opções, continua fiel. Não raro se vê pelas ruas um reluzente Landau desfilando lembranças boas, da época em que uma vida melhor não era apenas uma sonho.

GALAXIE, UM PERCURSOR

Numa rápida volta ao passado vamos encontrar muitas soluções que se hoje são até comuns em muitos carros de linha, no Galaxie foram uma inovação. Para não ficar muito extensa, ai vai a longa lista das inovações que surgiram no Galaxie: transmissão automática, diferencial anti-derrapante, lubrificação para 50.000 quilômetros, ar condicionado, direção hidráulica, desembaçador com três velocidades, ar quente regulagem automática dos freios, pneus sem câmara, porta-malas com sistema de controle remoto elétrico para abertura, carroceria programada para deformação em caso de impacto, troca de óleo para 10.000 quilômetros, freio de estacionamento acionado com o pé, luz de advertência intermitente do freio de estacionamento, dobradiças que mantêm portas abertas em duas posições, quebra-ventos com acionamento por manivelas, servo-freio, maçanetas internas escamoteáveis,fechaduras das pontas resistentes à tração de até uma tonelada, pára-brisas fixados com ”clichê” ao invés de borrachas e chaves de contato e portas que funcionam em qualquer lado.

UM SENHOR MOTOR

Uma das razões do sucesso do Ford Landau no Brasil foi, sem dúvida, o uso do motor 302 V8, de4.949cc de cilindrada e 199CV de potência. Este motor, fabricado nos Estados Unidos ou no México e exportado para o Brasil via Canadá – daí o apelido ”canadense” – substitui em 1976 o motor V8 de 292 pol3 (4.785cc) que equipava o Galaxie desde 1969. 

O motor 302 V8 foi lançado nos Estados Unidos em 1968 equipando os Mustang e chegou ao Brasil em 1973 Com os Maverick GT, passando a seguir para os Galaxie. Não foi o motor mais potente do Brasil (perdia para os Dodge Charge de 215 CV) mas foi um dos mais marcantes e bastante usado em competições e adaptações. Nos Landau, colaborou para a formação de um conjunto tão homogêneo carro/motor que até hoje, a Ford recebe dezenas de encomendas de Landau, mas não pode atender nenhuma. O volume de pedidos é tão alto que chegou-se a cogitar a volta da fabricação deste carro no ano passado, em regime quase artesanal, para atender seu público exclusivo. A questão esbarrou no preço, que seria altíssimo (cerca de três vezes o preço de um Diplomata) e o ferramental, que não existe mais. Por isso, o Landau é mesmo pura saudade…

O CARRO DO PAPA

Dentre todas as honras que o Galaxie teve o prazer de protagonizar, com certeza, a maior foi ser um ”Papamóvel”. Foi em 1980, quando João Paulo II visitou o Brasil.

O carro, originalmente, era um Landau que, depois de 1.500 horas de trabalho especializado, transformou-se no carro mais exclusivo até hoje desenvolvido pela Ford no Brasil. Além das identificações como brasões e placas, o ”Papamóvel” teve instalado um teto-solar na altura do banco traseiro (para o Papa ficar de pé  dentro do carro) e barras cromadas para servir de apoio. Internamente havia quatro poltronas reclináveis, com revestimento em tecido cinza e entre os bancos dianteiros havia um refrigerador a gelo seco. Este Landau-Papamóvel foi utilizado durante a estada do Papa pelas cidades de São Paulo, Aparecida do Norte e Salvador.

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